Desafios do TDAH na Fase Adulta

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Thais de Souza Sottili

8/10/20254 min read

Você sabia que há diferenças de sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) da infância para o final de adolescência e fase adulta?

O TDAH na vida adulta muitas vezes tem sido visto como uma doença camuflada, pois ainda se utiliza um um conjunto de sinais e sintomas que são aplicados a crianças e adolescentes. Torna-se fundamental, entender as particularidades e manifestações do TDAH nessa faixa etária para um diagnóstico adequado e tratamento eficaz, pois o não reconhecimento das diferenças faz com que muitos profissionais não consigam identificar adequadamente os sintomas.

Muitas vezes, quando não diagnosticado na infância, os prejuízos no adulto podem ser considerados "traços de personalidade", o que gera mais estresse e dificuldades tanto para o indivíduo quanto para as pessoas ao seu redor, que pode passar uma vida inteira lutando sozinho para superar as dificuldades.

A hiperatividade motora é substituída por uma sensação de inquietude interna, com necessidade de se manter ocupado, bem como comportamentos impulsivos, que podem se manifestar por compras e decisões sem pensar nas consequências. assim. Assim, a hiperatividade observada em crianças pode corresponder a um excesso de atividades em adultos e a impulsividade pode se expressar em términos prematuros de relacionamentos, problemas de humor, abuso de substâncias ou direção impulsiva de veículos.

A desatenção em adultos pode ser evidenciada em tarefas que exigem organização e sustentação da atenção ao longo do tempo, além de dificuldades com a memória e no gerenciamento do tempo.

Além destes pontos, mesmo diante da redução dos sintomas clássicos de hiperatividade e impulsividade ao longo do desenvolvimento, muitos adultos continuam apresentando dificuldades expressivas em diferentes demandas cotidianas: acadêmica, profissional, afetivo sexual, doméstica, social, financeira, trânsito e risco legal.

Trabalho: As principais dificuldades enfrentadas estão relacionadas a desatenção, que não raramente, podem levar a erros, falta de organização, má gestão de tempo e dificuldades no cumprimento de prazos. A hiperatividade nesse ambiente pode se manifestar como uma necessidade de estar constantemente em movimento e a impulsividade pode resultar em decisões precipitadas e conflitos com os colegas, levando a uma rotatividade de emprego e dificuldades em assumir novos cargos.

Gestão Financeira: Dificuldades no planejamento de estratégias e objetivos de longo prazo, além de impulsividade, podem acarretar em gastos excessivos com dificuldades em manter um orçamento. Além disso, a saúde mental de adultos com TDAH pode ser severamente prejudicada, contribuindo para quadros como depressão, ansiedade e baixa autoestima. Pode haver uma frustração constante com a dificuldade em cumprir tarefas e atingir metas, também há uma maior probabilidade de uso de substâncias, seja como uma tentativa de automedicação ou como resultado de comportamentos impulsivos associados ao TDAH.

Alterações no sono Alterações no sono podem ocorrer em uma percentagem de 25-50% de indivíduos com diagnóstico de TDAH, como insônia, transtorno do sono-vigília do ritmo circadiano, apneia do sono e sonolência diurna.

Desregulação Emocional: Adultos com TDAH podem apresentar incapacidade de lidar com emoções desconfortáveis quando necessário e de se engajar em um comportamento apropriado, quando angustiado. A desregulação emocional pode ser demonstrada por irritabilidade, explosões de raiva, baixa tolerância, frustração e déficits motivacionais, embora não sejam sintomas específicos do transtorno.

Tais comorbidades tornam o diagnóstico e o tratamento mais complexos, exigindo um olhar cuidadoso e a colaboração de vários especialistas para gerenciar adequadamente todas as condições concomitantes.

Apesar do diagnóstico do TDAH ser predominantemente clínico, a avaliação neuropsicológica tem um importante papel na caracterização do perfil dos pacientes, permitindo estabelecer forças e fraquezas no funcionamento cognitivo e auxiliando na detecção de comorbidades. Recomenda-se a coleta de informações adicionais com familiares ou pessoas próximas para auxiliar na reconstrução da trajetória dos sintomas, considerando que muitos adultos com TDAH não conseguem identificar precisamente quando os sinais começaram ou subestimam o seu impacto. A memória autobiográfica pode ser prejudicada, e o relato de terceiros contribui para a confirmação da persistência dos sintomas ao longo do desenvolvimento

Para muitos adultos, o diagnóstico de TDAH na vida adulta, pode assumir um papel transformador. Muitos indivíduos relatam alívio ao encontrar uma explicação para dificuldades vividas por anos, o que favorece processos de autoaceitação e ressignificação de suas experiências. Essa nova perspectiva contribui para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento mais funcionais, além de favorecer o engajamento em tratamentos eficazes, tanto farmacológicos quanto psicoterapêuticos. A nomeação do transtorno também facilita a comunicação com familiares, parceiros e profissionais, melhorando as relações interpessoais e sociais.

REFERÊNCIAS:

BARKLEY, R; BENTON (2023). Vencendo o TDAH adulto. Artmed, São Paulo.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - APA (2023). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed. texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2023.

OLIVEIRA, A; NASCIMENTO, P (2017). Escala de Prejuízos Funcionais. Hogrefe, São Paulo.

SAMPAIO, B. et al (2024). O impacto do Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) em adultos e a importância do diagnóstico precoce. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 9, p. 961–970. DOI: 10.36557/2674-8169.2024v6n9p961-970.